29 de jan. de 2010

A VOZ DO POVO - o IBOPE do Brasil



Livro: A VOZ DO POVO – O IBOPE do Brasil.
Autora: Silvana Gontijo
Editora: OBJETIVA, 1996
Este livro nos conta os primeiros cinqüenta anos de existência do IBOPE – INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO PÚBLICA E ESTATÍSTICA, pioneiro na pesquisa de opinião no Brasil.
Sua autora, Silvana Gontijo, poderia ter se limitado a escrever sobre o sucesso do Instituto devido à ética e seriedade com que sempre pautou suas pesquisas, conquistando a confiança e o respeito da população.
Entretanto Silvana aproveita a oportunidade e realiza um verdadeiro estudo da sociedade brasileira desde os finais do século XIX (1900) quando o IBOPE ainda nem sonhava existir até 1992, ano de seu cinquentenário.
Ela nos revela as transformações sociais, culturais e políticas através da evolução da importância da “opinião pública” no cenário brasileiro. Cita por exemplo, na página 34, a entrada do Brasil na segunda guerra Mundial, ao lado dos Aliados democratas. Getúlio Vargas, ditador no momento, não se furta em “atender aos apelos da Nação”.
O povo, que assistiu “bestializado” o fim da Monarquia, ao longo destes pouco mais de cem anos lutou pelos seus espaços e passou a ter voz e vez, procurando conquistar, degrau por degrau, a plena cidadania.
A própria criação do IBOPE, dentro do Estado Novo, período ditatorial da Era Vargas, pode ser considerada uma batalha vitoriosa desta luta. O recém criado IBOPE realiza a primeira pesquisa eleitoral de nossa História e o resultado é “a expressiva maioria de intenções de voto para o candidato Eduardo Gomes”, afirma a reportagem do Diário da Noite de 17 de maio de 1945. (Eduardo Gomes era candidato de oposição e essa pesquisa foi realizada somente em São Paulo. Não se poderia falar ainda em “opinião pública” nacional!)
E Silvana argumenta na página 49: “Já naquele momento de nossa História, eram tantos os aspectos a se levar em conta! Em primeiro lugar a vastidão territorial una, porque Brasil, mas múltipla, graças à diversidade e peculiaridades regionais.”
Na eleição de 1945, em São Paulo, o IBOPE apontou Eduardo Gomes, mas no Brasil venceu o General Eurico Gaspar Dutra, candidato de Getúlio. “A vitória de Dutra confirmou que quem entendia de povo era Getúlio”, afirma ainda a autora.
Silvana não esquece o desenvolvimento das comunicações e sua parcela de responsabilidade na formação da mentalidade e dos costumes do brasileiro. É delicioso conhecer as propagandas da época incluídas em seu livro!
Reafirma também a importância do rádio como grande fator de integração nacional e a influência dos produtos e modismos estrangeiros, moldando gostos e personalidades Brasil afora.
Para elaborar este painel, a autora recorreu a muitas fontes: letras de músicas, charges, entrevistas, notícias, fotos, poesias, contos, anedotas, propagandas e, claro, a partir de sua criação, os gráficos produzidos pelo IBOPE em suas inúmeras pesquisas que procuravam delinear o “perfil do brasileiro” nas mais diversas situações.
Ela não tem pudores em sua busca porque sabe que para tentar retratar a “opinião pública”, senhora caprichosa de mil faces, precisa, como diz Milton Nascimento, “ir onde o povo está”.
Seu livro é recheado destas fontes, organizadas e generosamente acessíveis, tanto para aqueles que pretendem se dedicar a algum estudo sobre a época, como para os que somente apreciam uma boa leitura.
Poderíamos dizer que A Voz do Povo – o Ibope do Brasil nos leva a uma viagem pelo século XX, a uma verdadeira aula “de campo” de História do Brasil.
Rita Avellar.

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