12 de mar. de 2009

O novo Juízo Final

Ganha volume a atividade das fraternidades, especialmente as virtuais, que esperam o fim do mundo em 2012 (ver notícia sobre essa teoria no site de História Viva). Trata-se de uma variante de um discurso sempre presente na humanidade. Por isso, não há que se torcer o nariz para o atual fenômeno.
Este, em particular, costuma ser mais desprezado por deitar raízes num certo estado de espírito hippie remanescente, que prega a volta a um mundo simples (ainda que sobre terra arrasada), tangido pelo amor fraterno da era de Aquário e globalizado.
O fato é que a história, até aqui, foi feita também de milenarismos e messianismos. Assim, é melhor prestar atenção neles. Houve os de origem judaico-cristã, católicos ou protestantes, e os produzidos pelas ditas culturas rústicas, de tribos americanas e africanas. No Brasil, o messianismo produziu episódios espantosos, como as guerras de Canudos e do Contestado. Em Portugal, produziu o sebastianismo.
O que existe em comum em todas as formas organizadas de crença no Juízo Final ou no reencontro com um redentor é sua nítida capacidade de produzir rupturas, baseada numa matéria prima que até então parecia inerte: utopias e esperanças.
Se conseguirmos apartar os indesejáveis alienados e fundamentalistas, quase sempre presentes nesse tipo de movimento, captaremos talvez um estado de espírito transformador na crença coletiva do fim do mundo em 2012. Que pode resultar em ações igualmente transformadoras.
Parece hoje mais urgente na sociedade o desejo de uma separação do joio e do trigo. Parece imperioso que a abundância deixe de ser sinônimo de desperdício, consumismo e destruição exagerada de recursos naturais. É possível fazer muitas outras ilações — e esse exercício benéfico fica a critério do leitor.
O homem se faz e ao mundo de muitas formas. Os sonhos de uma geração são parte dessa construção. A fantasia de um “fim” absoluto ou relativo não é, por si só, menos auspiciosa, se a imaginarmos como o desejo de uma mudança radical. Isso bem pode ser reflexo de outras radicalidades – a mudança climática, por exemplo.
Por Liliana Pinheiro em 02/03/2009 para blogdahistoriaviva

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