4 de jul. de 2010

Futebol dá samba e História.


São Januário é o estádio dos operários
                                                     Flavio de Campos*
                                                                                        Especial da Folha de S.Paulo
"Quem trabalha é que tem razão
Eu digo isso e não tenho medo de errar
O bonde São Januário
Leva mais um operário
Sou eu que vou trabalhar"
(Ataulfo Alves, "O Bonde São Januário", 1940)
                                                                                                                    
Erguido em 1927, o estádio de São Januário foi palco de memoráveis partidas do Vasco da Gama. Primeiro clube carioca a admitir jogadores negros, sua direção chegou a impedir o radialista Ari Barroso (o compositor de "Aquarela do Brasil") de entrar no estádio para transmitir uma partida, por ter criticado seus dirigentes.
Mas, além do futebol e do autoritarismo de cartolas, São Januário foi também palco de grandes manifestações operárias durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945).
Lá, Getúlio Vargas costumava assistir a grandes desfiles de operários nas comemorações do 1º de Maio. Sem contestações, os trabalhadores agradeciam os benefícios "concedidos" pelo presidente.
Vargas consolidava um novo estilo de atuação, no qual a figura do presidente encontrava-se mais próxima da população.
Em um país em que as questões sociais haviam sido tratadas como caso de polícia, as atitudes de Vargas indicavam uma mudança de rumos.
A classe operária começava a figurar nos discursos de parte da elite e acostumava-se a ouvir, pelo rádio ou nas festas oficiais, sua voz aguda e penetrante: "Trabalhadores do Brasil".
Nos desfiles, os operários carregavam bandeiras brasileiras e estandartes com o retrato de Vargas. Por meio das cerimônias, ritualizava-se o compromisso entre o presidente, "pai da nação", e os trabalhadores, seus "filhos mais pobres".
Nessa comunhão emergia o Estado, um organismo vivo, um corpo, em que não deveria haver disputas entre seus membros. Em lugar da luta de classes, Vargas impunha a conciliação social, que na realidade significava a subordinação do operariado aos interesses da burguesia e do Estado nacional.
Conciliação entre as classes sociais, valorização do trabalho, disciplina, ordem e nacionalismo eram os elementos básicos da ideologia trabalhista gestada no Brasil.
Enquadrada nos estádios, a classe operária era incorporada ao jogo político, sem autonomia e por meio das engrenagens do Estado controlado pelo presidente Getúlio Vargas. Era o início do populismo, política de controle das massas que duraria até o golpe de 64.
Em 1979, em São Bernardo do Campo, bem perto de São Caetano (Grande São Paulo), milhares de operários em greve reivindicavam aumento de salários e liberdade sindical. Mas o estádio de futebol era o de Vila Euclides, e o presidente militar não foi convidado. Em São Januário, desde então, só os operários do São Caetano. Para jogar futebol.
                                                    *Flavio de Campos é autor de "Oficina de História", Editora Moderna, professor do Colégio Móbile e coordenador da Cia. de Ética.

16 comentários:

  1. Me desculpe, mas eu não entendia a frase: "Em São Januário, desde então, só os operários do São Caetano. Para jogar futebol."

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  2. HISTORIA PENSANTE, este texto foi publicado no uol educação conforme a citação no final da postagem. Pelo que eu entendi, em 1979, portanto já no processo de abertura da ditadura, após a greve de em São Paulo, em São Januário só jogavam os operários do São Caetano, mas teria que confirmar a interpretação com o Flavio de Campos, autor do texto. Obrigada pela sua participação.
    abraços Rita.

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  3. Olá meu nome é Pedro Felipe trabalho pra Frog, pela Duetto. Gostaria de entrar em contato com o responsável pelo blog. Meu email é pedro.felipe@agenciafrog.com.br

    Abraços!

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  4. Professora,
    pelo o que eu sei o trecho "Leva mais um operário" foi trocado pela censura, que o original era "Leva mais um sócio otário"

    De qualquer forma, abraços,
    Raphael Acosta - 1001

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  5. Apesar de eu ser Flamenguista, Flávio ser Fluminense e Thiago ser Vascaíno nós não sabíamos disso e gostamos de saber que São Januário foi o primeiro estádio a aceitar jogadores negros e apoiamos isso.

    Nomes: Daniel Neves, Flávio Cruz e Thiago Tourinho
    Turma: 1001

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  6. Como sou vascaína FANÁTICA adorei saber a história do estádio do meu maravilhoso time.Não sabia de nada disso, adorei o texto !
    Caroline de Lima Rieger-1001

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  7. Poxa professora, gostei da postagem, apesar de eu não ser vascaíno, gosto do estádio de são januário, foi o primeiro estádio de futebol que eu fui, com meu tio vascaíno. Tinha 4 anos. Não gosto de falar muito que meu primeiro jogo de futebol foi por causa do vasco pois sou fluminense. Não sabia que o estádio era tão antigo. Se eu não me engano foi o primeiro estádio do rio de janeiro!

    Leandro Barbosa, Turma 1001

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  8. sou vascaino e conhecia a historia de são januario mas na parte do futebol como por exemplo o primeiro gol olimpico foi marcado la.E tambem sabia dos desfiles dos trabalhadores e que getulio usava como palanque mas não sabia que tinha tanta importancia na historia brasileira.Ah e vale resslatar a entrada de são janu éh tombada como patrimonio historico cltural brasileiro.

    Bruno mota 1001

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  9. Olha esse site professora é ótimo e tem algumas matérias que a senhora esta passando junto com suas turmas de 3º ano para dar uma estudada e se preparar para o vestibular. http://www.brasilescola.com/historia/

    PS: A senhora poderia abrir um espaço no seu blog de opniões, fica meio sem lógica, postar um assunto totalmente diferente do tema principal (como estou fazendo agora).

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  10. Jefferson, este site já consta na lista "Navegando" do nosso blog.. Realmente é um excelente site para pesquisa. Quanto a sua sugestão vou ver se existe essa possibilidade. Obrigada. Bjs Rita.

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  11. (George Ithallo - 3003)
    Olá professora, achei bem interessante a postagem dessa coluna falando sobre historias ligadas ao futebl.

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  12. Oi George, você deveria justificar seu pensamento. Por quê achou interessante? Procure argumentar.Eu sei que você tem muita coisa a dizer.
    bjs Rita.

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  13. Bruno Bernardino - Turma: 3001
    Mesmo sendo Flamenguista, acho bastante interessante saber a história do Estádio de São Januário. Além de partidas de futebol, aproveitavam o estádio para cerimônias. Já vi histórias de que antigamente negros não podiam jogar futebol, então o Vasco fez com que acabasse com esse preconceito no esporte.

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  14. Elias Firmino - Turma 3001

    Sou vascaíno, já treinei em são januário, ate sabia parte da história, mas não tanto quanto agora, adorei a postagem, pois agora sei tudo sobre meu estádio de coração, onde considero minha segunda casa, e poste mais coisas sobre o vasco, ADORAREI.!

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  15. Este comentário foi removido pelo autor.

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  16. Recebi este e-mail do professor Flavio Campos e publico aqui para dirimir a dúvida que surgiu na postagem.

    Prezada Professora Rita Quaresma

    Antes de mais nada, quero cumprimentá-la e a toda a direção da escola pelo excelente trabalho realizado por vocês. Fortuitamente, acabei me deparando com o blog organizado pela professora Rita. Revela um emocionante empenho pela educação em geral e pelo ensino de história em particular.

    Um de meus filhos chamou-me a atenção para uma dúvida acerca de um de meus textos havia provocado em alunos de sua escola. Entrei no bolg e pude verificar os comentários e o interesse despertado pela relação futebol e história. Isso também deixou-me muito contente.

    Bom, com relação à frase final do artigo, só é possível entendê-la com a devida contextualização de sua publicação. Em janeiro de 2001, a final do campeonato brasileiro foi disputada por Vasco e São Caetano. Por isso ã referência aos operários de um time que não se situava entre os grandes do futebol brasileiro que viriam a disputar o principal título nacional.

    Bom, foi um grande prazer acompanhar esse trabalho. Parabéns à professora Rita

    abraço a todos

    Prof. Flavio de Campos
    DH/FFLCH/USP

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